LATOARIA
LATOARIA
Na arte genérica da latoaria dos séculos XVI a XVIII eram especialistas os latoeiros, os caldeireiros e os picheleiros, estes últimos ainda sem a conotação que hoje lhes atribuímos. Ao caldeireiro competia fazer caldeiras e caldeirões, mas também produzia escalfadores, alambiques de cobre e cântaros. Os picheleiros, versados nas obras em estanho, produziam picheis para o vinho, mas também saleiros, vinagreiras, galhetas, vasos e barris, bacios, escudelas, castiçais, jarros, cálices, patenas e colheres. Esta atribuição de produtos não era rígida e podia variar de lugar para lugar, ou até de artífice para artífice, atualizando-se no tempo e adaptando-se a novas necessidades e gostos.
Os latoeiros produziam caldeiras, candeeiros, bacias e tachos, distinguindo-se os de obra grossa, que faziam trabalhos fundidos, dos que trabalhavam a martelo. Nestes últimos inseriam-se os latoeiros de folha branca ou folha de Flandres, que se afirmaram no início do século XVIII com a produção de lanternas, candeeiros, lâmpadas e castiçais de igreja, funis, seringas, etc., e que, já no século XIX, também se denominavam de funileiros.
As latas ou folhas de Flandres, transformadas em finas lâminas de metal importado do Norte da Europa, passadas por estanho e trabalhadas maioritariamente por martelagem, substituíram muitos dos contentores tradicionalmente fabricados em cobre, estanho, barro e madeira, sobretudo na indústria de conservas alimentares e na embalagem de medicamentos. De superfície branca e brilhante, a utilização deste material destacou-se na iluminação (no fabrico de castiçais, candeeiros, lampiões ou lanternas), em vários utensílios associados ao tratamento da vinha (como enxofradores, aspersores e atomizadores, utilizados para aplicação de enxofre e caldas preventivas de pragas) e, sobretudo, no domínio doméstico, onde a variedade de objetos produzidos é quase infinita, entre bandejas, travessas, bules, chocolateiras, leiteiras, açucareiros, latas, malas e baús, escalfetas, botijas, braseiras, bacias, banheiras, jarros, baldes, regadores, coadores, púcaros, funis, cântaros, etc…
Vulgarizada no século XIX, a latoaria fixou-se maioritariamente no centro de cidades e vilas, vendendo-se os produtos nas respetivas lojas/oficinas ou nas feiras. Em Penafiel, este ofício já tinha destaque suficiente para existir um juiz dos funileiros desde 1780, que tutelava a profissão. Cem anos volvidos, trabalhavam na cidade três caldeireiros, oito latoeiros e dois funileiros, sendo depois contabilizadas pelo Inquérito Industrial de 1881 doze oficinas de funilaria e latoaria de pequena dimensão. Ainda hoje se mantêm na arquitetura da cidade alguns elementos executados em folha, como é o caso dos cataventos que rematam as torres das igrejas, ou dos curiosos reclames figurativos de antigos estabelecimentos comerciais, como o pão-de-ló da loja da Rosinha, ou a cartola da Chapelaria Fausto, estando também recolhidos no Museu Municipal outros semelhantes, entretanto retirados das fachadas onde originalmente se encontravam.
Embora se tenham reinventado e adaptado a novas exigências, também os latoeiros foram afetados pelo aparecimento e preferência por outros materiais mais modernos, como o alumínio ou o plástico, passando a dedicar-se sobretudo a pequenos consertos ou integrando-se na construção civil. Na memória penafidelense ficaram algumas lojas/oficinas de encerramento recente por morte dos seus proprietários, artífices que não conseguiram transmitir o saber-fazer da sua arte a quem pudesse dar-lhes continuidade, existindo hoje apenas um latoeiro no concelho.
Bibliografia de referência:
SOEIRO, Teresa (2015) – A latoaria em Cabeceiras de Basto. Cabeceiras de Basto: Câmara Municipal.